quarta-feira, maio 23, 2007

Pedaços

Bocadinhos de mim... Espalhados pelo chão, acumulados em todos os cantos. Desorganizados e perdidos como se ninguém se preocupasse...

Preocupar-me-ia... Gostava de me preocupar... Tento em vão, procurá-los...

Uns dias salto entre espaços vazios, outros flutuo para os ver melhor, noutros, ainda, ando na ponta dos pés com medo de pisar algum... E depois há aqueles dias, em que me limito a arrastar os pés, na tentativa de tropeçar em algum... Na esperança de nada.

Uns dias eles brincam às escondidas comigo, outros ficam imóveis, estáticos querendo ser apanhados... E noutros ainda, desesperados por eu não os ver, por ter perdido o seu interesse, acenam-me, saltam e rodopiam à minha frente... Lançam foguetes... Em vão.

No dia em que, dificilmente, os apanho e os guardo cá dentro, perco a chave... E eles voltam a fugir... Ou a explodir...

Queria apanhá-los a todos... Juntá-los como um puzzle, porque sei que todos encaixam... Comprar uma cola especial e emoldurá-los em mim... Para que não se soltem mais, para que não fujam mais, para que não expludam mais.

Preocupar-me-ia mais... Se não me tivesse já cansado de correr, de saltar, de rodopiar... E de fingir que não os vejo...

Ceguei-me, calei-me, entupi-me e escondi-me... Para que não me procurem mais, para que não me chateem mais, para que não os oiça mais... Constantemente perdidos, sozinhos e assustados... Constantemente perdida, sozinha e assustada...

Ceguei-me, calei-me, entupi-me e escondi-me... Porque amanhã poderá ser melhor... Porque amanhã poderei querer vê-los, encontrá-los... E colá-los...

Porque o amanhã é o amanhã... E não é o hoje...
E hoje... Hoje não me apetece, não quero mais...

Quero encostar-me, desligar-me... E fingir que nada existe...

Encosto-me, desligo-me e despeço-me... Até amanhã...
Talvez...

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