terça-feira, dezembro 19, 2006

um dia foi assim

Era de madrugada. E o que importava isso? ultimamente as noites e os dias intercruzavam-se de forma tão indistinta que os relógios deixavam de funcionar. Devia ser pela luz que entrava pelos estores.

" Tenho que me levantar!" Saltou-lhe dos lábios em voz alta. Estranhamente o corpo não obedecia, a inércia abatia-se sobre a sua cabeça, sobre aquele corpo tão amarfanhado como as pregas do lençol. Um prenúcio pairava sobre ele e esmurrava-lhe as entranhas por dentro. Não havia nada a fazer. E o calor dela aha...o seu calor! esse continuava ali na almofada sob a mão dele. Tresandava a Ela. Fedia a Ela. Um cheiro de amendoa-mel que lhe violava as narinas e lhe transbordava o sentido.

A mente:
" Porque é que não perdi tempo? porque não beijei cada milimetro da tua pele? porque não perdi tempo a mordiscar-te o lóbulo da orelha? porque não te acariciei com mais ternura, com mais demora, com todo o tempo do mundo? porque é que não te senti sempre como se fosse a primeira vez? porque não pensei primeiro no teu extâse, na tua loucura? porque não te levei a novos niveis de prazer? porque não te penetrei devagar para te deixar sentir melhor o quanto te precisava?"

O frio do quarto recolhe-o em si. " E agora? que faço de mim? que faço de nós que ainda tenho aqui no peito?"

De manhã o sol desponta para dentro do quarto. O vazio consome os últimos fios de vida e fica o frio.





Por vezes morremos bocadinhos pequeninos que nos parecem alarvidades e desejamos que outros morram também esses bocadinhos para nos conseguirem ver a morrer.

2 comentários:

Sarilha disse...

gosto... sem qualquer razão m especial... simplesmente gosto!!!

Paula disse...

obrigadooo!!
se escrevo é porque sei que vais ler ;)